Americanos têm interesse cada vez maior na qualidade de sua alimentação

Com um grande atraso na comparação com a maioria dos países ocidentais, os americanos mostram um interesse cada vez maior pela qualidade de seus alimentos e estimulam as grandes empresas do setor agroalimentar a adotar medidas radicais, antes inimagináveis.

Ao anunciar que em um processo gradual, que deve durar 10 anos, deixará de servir nos Estados Unidos ovos de galinhas criadas em gaiolas, o McDonald’s pensou mais em seus clientes que no sofrimento dos animais.
“Eles se interessam cada vez mais por seus alimentos e sua procedência”, afirmou o presidente do McDonald’s USA, Mike Andres.

Um mês antes, a Kellogg anunciou publicamente que pretende parar de usar aromatizantes e corantes artificiais em seus cereais até 2018, imitando deste modo a concorrente General Mills.

No fim de maio, Pizza Hut e a rede de restaurantes de fast-food tex-mex Taco Bell, duas empresas do grupo Yum! Brands, haviam adotado a mesma medida.

“Mais do que nunca, as pessoas querem qualidade e mais informação”, disse na ocasião Brian Niccol, CEO da Taco Bell.

“Há um efeito bola de neve”, afirma Penny Kris-Etherton, professora de Nutrição na Universidade Penn State (Pensilvânia).

“Era um tema à margem em um nicho de mercado e se transformou em uma necessidade em massa”, afirma Larry Light, ex-diretor de marketing do McDonald’s.

A tendência ganhou força nos últimos dois anos e o que antes envolvia certos clientes de classe média e alta, dispostos a pagar mais por produtos orgânicos ou locais, é agora um tema de preocupação para dezenas de milhões de consumidores.

O movimento é intergeracional: os “baby-boomers” buscam envelhecer melhor e os mais jovens aspiram a uma vida mais saudável e respeitosa ao meio ambiente.

Pressão nas redes sociais

As redes sociais têm desempenhado, como em muitos casos atualmente, um papel de amplificador que aumentou ainda mais a pressão sobre a indústria agroalimentar.

Fotos compartilhadas de galinhas em jaulas contribuíram para a organização de um referendo na Califórnia em 2008 que aprovou uma legislação de maior proteção aos animais.

Em 2012, uma campanha liderada por uma mãe de família de Houston (Texas), que denunciava o uso nas cantinas escolares de carne moída tratada com amoníaco, teve um impacto considerável.

Vários estados do país desistiram de servir a “pink slime” (“gosma rosa”) em suas escolas, assim como várias redes de fast-food, entre elas a McDonald’s.

Atraídos durante muito tempo pelos produtos dietéticos que prometiam menos calorias com o mesmo sabor, os americanos se voltam agora para o “natural”.

“As pessoas querem levar uma vida mais saudável. E consideram que quanto mais industrial, menos saudável é a alimentação”, explica Larry Light, que dirige atualmente a empresa de consultoria Arcature.

“A palavra ‘fresco’ é o sinal de algo mais saudável que os alimentos industrializados, mesmo quando contém as mesmas calorias”, destaca.

Para Michael Jacobson, diretor do Centro para a Ciência no Interesse Público, um organismo de pesquisa, muitas medidas anunciadas pelos gigantes da alimentação são apenas cosméticas.

“Estas decisões são mais da área de comunicação do que da saúde pública”, afirma Jacobson, ao citar como exemplo a rede de fast-food Chipotle, que há alguns meses faz propaganda da qualidade de seus alimentos.

A Chipotle desistiu de utilizar alimentos geneticamente modificados e carnes de animais criados com antibióticos, mas ao mesmo tempo continua servindo alimentos “carregados” de sal e praticamente não oferece verduras ou frutas, lamenta Jacobson.

Além disso, os esforços de alguns gigantes entre os restaurantes ou do setor agroalimentar não bastam para revolucionar um país que tem 78,5 milhões de adultos obesos, segundo os especialistas.

“Você pode privilegiar em cada oportunidade o mais saudável e, apesar de tudo, acumular calorias”, adverte Kris-Etherton. Para a professora universitária, “o essencial é que as pessoas estejam bem informadas”.

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